Não
me lembro bem como foi o primeiro encontro. De um lado a casa 12 do conjunto 4.
Do outro, a casa 11 do conjunto 3. Uma cerca de cipreste separava os quintais
das casas. Mas, a ligação entre os dois era mais forte e logo uma passagem
secreta se formou. Era por um buraco no chão, entre a cerca, que Rafael (meu
vizinho) e Saulo (meu irmão) costumavam circular entre as duas residências. E
claro, onde estava também a explicação para as roupas encardidas.
Quando
crianças, os dois aprontaram. Cá entre nós, acho que não sei da missa, a
metade. Rafael era o mais medroso. “É
barbudo?” Sempre perguntava ao amigo quando aparecia um homem estranho por
perto. Acho que ele imaginava o bicho papão. Ele também não gostava de
palhaços. Saulo era mais corajoso. Acho que, por ser mais velho, era uma
espécie de líder da dupla.
Juntos,
inventavam brincadeiras. Corrida de tatu-bola (nunca mais vi um por aqui) e de
tampinha - eles usavam areia de construção para fazer a pista. Gostavam também de
andar de bicicleta pelo bairro e, mais na frente, de walkmachine (o Saulo detestava quando eu pedia para andar na
garupa). Sem falar dos inseparáveis walkie-talkies. “Câmbio, falando”.
Algumas
diversões eram mais pesadas, como colocar bombinhas de festa junina nas caixas
de correio dos vizinhos, além das brincadeiras com estilingues e espingarda de
chumbinho - regulada pela dona Socorro, minha mãe (preocupada do jeito que é,
nem sei como ela teve coragem de comprar esse troço). Eles também começaram a
tocar violão juntos. Meu pai ensinou a primeira música. Tiveram uma bandinha na
adolescência, a Cockpit que, na época, fez certo sucesso entre a garotada.
Hoje,
existe um portão que liga as famílias Angelo e Toscano. O cipreste, o Rafael,
quando criança, teve a destreza de tocar fogo. O quintal deles é como uma
extensão da minha casa e vice-versa. Não existe cadeado. Quando queremos
frequentar a casa um do outro, apenas abrimos o portão e passamos.
Depois
de mais de vinte anos, a amizade entre o Rafa e o Saulo continua. É bonito de
se ver. Acho que, para quem acredita, como eu, essa parceria vem de outras
vidas. Sem dúvida, serve de exemplo para todos os moradores do Lago Norte. Como
é importante conservar as amizades do passado. Levá-las por toda a vida. Temos
bons amigos que moram tão perto. Se faz tempo que você não vê aquela pessoa que
ainda vive ao seu lado, por que não fazer uma visitinha e reativar a ligação? Confesso
que essa dica também vale para mim. “Câmbio, desligando”.
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