quarta-feira, 11 de julho de 2012

Uma amizade que nasceu aqui

Especial para o Jornal do Lago Norte

Não me lembro bem como foi o primeiro encontro. De um lado a casa 12 do conjunto 4. Do outro, a casa 11 do conjunto 3. Uma cerca de cipreste separava os quintais das casas. Mas, a ligação entre os dois era mais forte e logo uma passagem secreta se formou. Era por um buraco no chão, entre a cerca, que Rafael (meu vizinho) e Saulo (meu irmão) costumavam circular entre as duas residências. E claro, onde estava também a explicação para as roupas encardidas. 

Quando crianças, os dois aprontaram. Cá entre nós, acho que não sei da missa, a metade. Rafael era o mais medroso. “É barbudo?” Sempre perguntava ao amigo quando aparecia um homem estranho por perto. Acho que ele imaginava o bicho papão. Ele também não gostava de palhaços. Saulo era mais corajoso. Acho que, por ser mais velho, era uma espécie de líder da dupla.

Juntos, inventavam brincadeiras. Corrida de tatu-bola (nunca mais vi um por aqui) e de tampinha - eles usavam areia de construção para fazer a pista. Gostavam também de andar de bicicleta pelo bairro e, mais na frente, de walkmachine (o Saulo detestava quando eu pedia para andar na garupa). Sem falar dos inseparáveis walkie-talkies. “Câmbio, falando”.

Algumas diversões eram mais pesadas, como colocar bombinhas de festa junina nas caixas de correio dos vizinhos, além das brincadeiras com estilingues e espingarda de chumbinho - regulada pela dona Socorro, minha mãe (preocupada do jeito que é, nem sei como ela teve coragem de comprar esse troço). Eles também começaram a tocar violão juntos. Meu pai ensinou a primeira música. Tiveram uma bandinha na adolescência, a Cockpit que, na época, fez certo sucesso entre a garotada.

Hoje, existe um portão que liga as famílias Angelo e Toscano. O cipreste, o Rafael, quando criança, teve a destreza de tocar fogo. O quintal deles é como uma extensão da minha casa e vice-versa. Não existe cadeado. Quando queremos frequentar a casa um do outro, apenas abrimos o portão e passamos.

Depois de mais de vinte anos, a amizade entre o Rafa e o Saulo continua. É bonito de se ver. Acho que, para quem acredita, como eu, essa parceria vem de outras vidas. Sem dúvida, serve de exemplo para todos os moradores do Lago Norte. Como é importante conservar as amizades do passado. Levá-las por toda a vida. Temos bons amigos que moram tão perto. Se faz tempo que você não vê aquela pessoa que ainda vive ao seu lado, por que não fazer uma visitinha e reativar a ligação? Confesso que essa dica também vale para mim. “Câmbio, desligando”.



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