quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O novo e o velho

Cá entre nós, Soninha again!


Revista Vida Simples
Por Soninha Francine

Tempos atrás li um texto que exaltava a “novíssima invenção” que ia revolucionar os hábitos de leitura. “Não tem fio nem bateria – afinal, não precisa de eletricidade. Funciona da mesma maneira na luz e na sombra, noite e dia, em ambiente interno ou externo, em qualquer lugar do planeta, na horizontal ou na vertical. Não dá pau, não apaga sem querer, não pega vírus. Não tem problemas de compatibilidade com outros sistemas”. Seguia por aí, era bem divertido. 

Eu amo livros. Sua morte já foi decretada muitas vezes, tanto quanto o fim da pintura, da fotografia, do teatro. A cada nova tecnologia, a cada novo suporte para a criatividade humana ou meio de comunicação, os modos anteriores são considerados à beira da extinção. E o fato de profecias anteriores não terem se realizado não impediu o surgimento das seguintes. A fotografia não acabou com a pintura, mas continuamos discutindo apaixonadamente se a internet vai acabar com os jornais (eu acho que não). 

Pode parece o contrário para quem me conhece de sites e blogs, mas sou do tipo que demora a aderir às novas tecnologias. Continuei comprando vinil quando todo mundo já tinha CD. Estava no VHS quando todos já estavam em DVD. Levei anos para ter o primeiro celular. Carreguei em várias viagens uma câmera 35 mm com lentes cambiáveis que destoava demais das camerazinhas digitais dos outros viajantes. Ah, sim, custei a usar internet e mandar o primeiro e-mail.

Mas, depois que começo a usar, me acostumo rapidamente, e coisas que me pareciam absurdas agora são naturais, como comprar um guarda-roupa pela internet. Faço mil coisas pela rede, como quase todo mundo que conheço, e vejo nela uma maneira de economizar tempo, energia e recursos vários, de combustível a papel, de tinta a pneu. Adoro a internet para trabalhar e me divertir, ler e escrever e falar com pessoas.

Só que chega uma hora em que a profecia invertida se confirma. Quando nenhum outro recurso tecnológico resolve seu problema, eis que surgem papel e caneta para socorrê-lo. É fácil, prático, econômico e versátil.

Tempos atrás, trabalhei com um especialista em internet no desenvolvimento da estratégia de comunicação. Ele só falava inglês. Na primeira reunião, avisou a toda a equipe: “Everybody needs a notebook”. Quem não estava com o computador no colo saiu para buscar o seu, mas o “notebook” a que ele se referia era o bom e velho caderno. “Não quero ninguém fazendo anotações no celular!”

Assim como meus vinis dividem a prateleira com os CDs, os VHS com os DVDs (ainda não cheguei ao blue-ray), papéis, telas e teclados continuarão convivendo pacificamente por muito tempo. Que os humanos sejam capazes do mesmo convívio, a despeito das diferenças.

Novas tecnologias não são uma ameaça a antigos suportes, mas sim complementares

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