quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pretérito mais-que-perfeito


Especial para o Jornal do Lago Norte


Cheguei ao Lago Norte em 1984, tinha apenas nove meses de idade. A minha mãe ficou apreensiva com a mudança.  Afinal, naquela época, havia mais mato do que residência. E ela, acostumada com a civilização da 110 Sul, não estava nem um pouco empolgada com a vida na ‘roça’. Aos poucos, minha mãe foi se habituando. Meus pais fizeram horta, criaram galinha, plantaram mandioca. Tínhamos também um vira-lata que, muito independente, costumava dar um rolé pelo bairro. Como podem perceber, nossa vida no Lago Norte era como morar no campo.

Com o passar dos anos, os terrenos vizinhos foram sendo ocupados. E a família Angelo foi deixando de lado a vida no campo. Não temos mais galinhas, horta e, muito menos, mandioca. O cachorro não é nada independente. Se sair para passear sozinho, não volta mais. Hoje, não tem mais terreno baldio para as crianças fazerem guerra de mamona (acho que elas nem sabem o que é mamona), ou construírem, com papelão e lona, os famosos clubinhos no meio do mato.

Pensando assim, vejo como as coisas em nosso bairro mudaram.  A minha rua, por exemplo, está completamente construída. A civilização já chegou aqui faz tempo. Por um lado é bom. Bairro limpo, asfaltado, sem poeira. Temos também um comércio mais consolidado. Até o tão sonhado shopping saiu. Mas, por outro lado, vejo as pessoas afastadas da natureza. Fechadas em suas casas. Muitas nem ao jardim vão. As crianças não interagem. Os cachorros vivem como humanos e, a maioria, não sabe nem o que é enterrar um osso.

O que percebo é o ‘ser natural’ perder espaço para o ‘ser prático’. Se posso comprar verduras no supermercado, não faço uma horta. Não planto árvores para que o jardim não fique sujo. Se posso falar com o meu vizinho pelo telefone ou facebook, não o visito. E, assim, somos engolidos pela superficialidade do mundo contemporâneo e adotamos o antinatural.

Não sou contra a evolução material. Mas, não devemos esquecer das coisas simples da vida. Cá entre nós, evoluir espiritualmente é ainda mais importante. Então, se faz tempo que você não percebe a natureza que o cerca, pode começar visitando o seu lindo jardim no Lago Norte. Veja o pôr do sol e aproveite para tirar o sapato e caminhar pelo quintal. Acho que está bom para o início. Por diversas vezes, limpei meus pés que sujara por andar descalça no jardim de casa.

Um comentário:

  1. Fiz muita guerra de mamona, brinquei muito de pique-esconde, pique-bandeira, queimada e bete na rua. Subi em morro de areia e de brita das obras vizinhas. Andei de bicicleta, fui a pé pra SAB. Tinha horta e pomar no meu quintal. Fui tão feliz no Lago Norte!

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